Loja de Doces

A memória dos lugares por onde passamos, a lembrança de um primeiro beijo envergonhado.

A cidade muda junto conosco. Não haverá segundo passo igual nessa vida. A distância e o tempo fazem diferença na nossa percepção das mudanças. A escala, as cores, a estética tem diferenças entre a realidade e as nossas lembranças.

As coisas eram mais bonitas antes? Aquela rua era mais limpa? Mais nova? Ou o meu eu do passado não prestava atenção em detalhes? Ou é o vazio das ruas, nesse tom pós-apocalíptico que pintou as cores da cidade durante essa pandemia? A diminuição do uso estraga as coisas? Será que é a mesma lógica dos sapatos não usados?

Já parou para pensar por qual motivo carregamos tantas lembranças? Será tudo em vão? Será que existe um grande HD, uma nuvem, que armazena todas as memórias das mentes humanas? Será Deus um grande computador de um alienígena?

Eu gostaria de ser a Vampira do X-men por um dia para acessar a memória dos outros. Junto com esse poder, eu gostaria também da capacidade de voltar no tempo, assim poderia viver um dia de uma espécie de “historiadora in loco” , eu tocaria em personagens famosos da história para acessar os segredos das suas mentes.

Penso que as memórias são como as nuvens, elas podem assumir um formato ilusório quando observadas de longe, é a vantagem da distância. Mas se conseguíssemos acessar e olhá-las de dentro, toda aquela forma imaginária se perderia, e daria lugar a realidade da composição química de uma nuvem.

Foi assim quando eu toquei a neve pela primeira vez, pura decepção. Eu tinha a imagem de que a neve era algo fofo, macio e gelado, puro engano, está mais para uma raspadinha de gelo.

Estive pensando em qual seria a vantagem da noção de passado, presente e futuro. muitas vezes quando estamos vivendo o presente, ele é banal, normal, monótono, ou pior, não faz nenhum sentido. E aí, num piscar de olhos, a mágica do tempo e da distância acontece. Alguns momentos da nossa vida começam a fazer sentido, alguns dias normais passam a ser lembranças especiais. Quando nos afastamos, o tempo dá sentido aquilo que outrora foi o presente.